Pluto, de Naoki Urasawa – Um tributo sombrio e brilhante a Osamu Tezuka
- Eduardo Ronin Lucas
- 10 de jun.
- 3 min de leitura
Poucos mangás carregam o peso de serem uma reinvenção moderna de um clássico absoluto. Pluto, de Naoki Urasawa, é exatamente isso: uma homenagem ousada, emocional e tecnicamente brilhante ao lendário arco “O Maior Robô do Mundo”, da série Astro Boy, de Osamu Tezuka. E, quase duas décadas depois de seu lançamento, Pluto ganhou uma adaptação em anime pela Netflix — sombria, respeitosa e impactante.
Neste texto, vamos explorar por que tanto o mangá quanto o anime são experiências imperdíveis — não só para fãs de ficção científica e robôs, mas para qualquer leitor que goste de boas histórias com alma.

O enredo: mais do que uma ficção sobre robôs
Pluto se passa em um futuro onde robôs vivem entre humanos com direitos quase iguais. A paz começa a ruir quando alguns dos robôs mais poderosos do mundo começam a ser assassinados por uma força misteriosa — uma entidade conhecida apenas como Pluto.
No centro da trama está Gesicht, um robô-detetive da Europol, encarregado de investigar os crimes. À medida que mergulha na investigação, ele descobre não só um complô envolvendo guerra, tecnologia e poder, mas também dilemas existenciais profundos sobre memória, culpa, amor e humanidade.

Urasawa fazendo o que sabe melhor
Naoki Urasawa (Monster, 20th Century Boys) é mestre em tramas densas, personagens ambíguos e suspense psicológico. Em Pluto, ele transforma um arco de 1964 — originalmente leve e otimista — em um thriller noir adulto, com camadas filosóficas e temas pesados como trauma de guerra, inteligência artificial e terrorismo.
Apesar de ser baseado em Astro Boy, Pluto não exige conhecimento prévio do universo de Tezuka. Mas para quem conhece, a releitura é ainda mais tocante. Urasawa não apenas homenageia o Deus do Mangá — ele o atualiza com reverência e profundidade.

A adaptação em anime: peso emocional e estética precisa
Lançado em 2023 pela Netflix, o anime de Pluto surpreendeu pela fidelidade ao material original e pela produção de altíssima qualidade. Com direção de Toshio Kawaguchi e produção do Studio M2, o anime mantém o clima sombrio, o ritmo deliberado e o foco psicológico que fizeram do mangá uma obra-prima.
Os oito episódios adaptam toda a história, sem enrolação nem cortes drásticos. A trilha sonora é discreta e eficaz, e a direção de arte respeita os traços de Urasawa sem diluir seu estilo.
Se tem algo a criticar, talvez seja o fato de que o anime exige atenção e paciência — não é uma aventura shonen, e sim uma experiência narrativa densa, quase literária.

Humanidade em código binário
O maior triunfo de Pluto é mostrar que histórias sobre robôs podem ser profundamente humanas. É uma ficção científica que pergunta o que nos faz sentir, sofrer e lembrar — seja em carne ou silício. Gesicht, Atom, e até personagens secundários são tratados com o mesmo cuidado narrativo e emocional.
Se Astro Boy era a esperança de um futuro onde humanos e robôs convivem em harmonia, Pluto é o espelho de um presente onde a guerra, o preconceito e a ganância ainda nos assombram.

Vale a pena?
Sim. Mil vezes sim.Pluto é uma obra que honra o passado dos mangás, ao mesmo tempo em que projeta uma luz crítica sobre o nosso presente e futuro. Se o mangá é leitura obrigatória, o anime é o complemento visual que merecíamos — uma adaptação que respeita, emociona e expande.
Se você ainda não conhece, vá atrás. E se já leu, vale reler. Em tempos de excesso de conteúdo descartável, Pluto é arte duradoura.
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