Tinta, Paciência e Lâmina: O Desenho a Nanquim nos Quadrinhos
- Eduardo Ronin Lucas

- 14 de jul.
- 2 min de leitura

Antes do Ctrl+Z, da arte vetorial e do traço "limpinho" das telas digitais, havia algo mais direto, visceral — e implacável: o nanquim.
Essa tinta preta, espessa e ancestral foi (e ainda é) a espinha dorsal de milhares de páginas icônicas dos quadrinhos, da Europa ao Japão, do Brasil aos EUA. Desenhar a nanquim é quase um ato de fé. Um traço errado não volta atrás. Um borrão vira sombra. Uma linha firme vira narrativa.

Uma breve história
O nanquim tem origens milenares, criado na China há mais de 2 mil anos. Mas foi nos quadrinhos do século XX que ele se tornou símbolo da arte sequencial — principalmente em tempos de impressão barata e contraste necessário.
Artistas como Will Eisner, Hugo Pratt, Alfredo Alcala, Bill Sienkiewicz e Shiko fizeram do preto absoluto sua linguagem. Cada um ao seu estilo, mas todos com a mesma matéria-prima: papel, tinta e coragem.

As ferramentas do ofício
Desenhar a nanquim envolve instrumentos que parecem rústicos à primeira vista, mas que oferecem liberdade extrema para quem domina sua técnica. Aqui vão os principais aliados de quem encara o papel com coragem:

Canetas técnicas (tipo Rapidograph)
Usadas para traços lineares e precisos. Marcas como Rotring, Staedtler e Uni Pin são comuns entre quadrinistas.

Pena de metal (bico de pena)
Mais difícil de controlar, mas capaz de criar variações de linha expressivas com apenas uma virada de pulso. A clássica G nib japonesa é favorita de mangakás como Takehiko Inoue (Vagabond).

Pincel
Instrumento da alma para artistas como Alex Toth ou Mike Mignola. Com o pincel, o nanquim vira sombra, mancha, movimento. Um bom pincel nº 2 pode ser uma arma de guerra.

Frascos de nanquim
Marcas como Talens, Winsor & Newton ou o nacional Tridente têm boa pigmentação. O segredo é manter a tinta fluida, mas densa. E cuidar pra não secar no meio da página...

Branquinho (ou guache branco)
Sim, o “perdão” existe. Mesmo no nanquim. Muitos artistas usam tinta branca para corrigir ou destacar.

A poética do traço permanente
O desenho a nanquim carrega um valor simbólico: é feito para durar. Não é descartável, não é automático. Cada linha é uma escolha. Cada sombra, uma construção. O artista dialoga com o erro, abraça o acaso, e transforma falha em estilo.
É uma forma de desenho que exige atenção plena, algo raro num mundo apressado.

Por que ainda usar nanquim em 2025?
Porque ele ensina. Porque ele impõe ritmo. Porque ele conecta o artista à materialidade da arte. Mesmo quem desenha digitalmente tem muito a ganhar estudando o nanquim tradicional. Ele força o domínio do volume, da luz, da intenção. No nanquim, não tem atalho. Mas tem entrega.
E talvez seja por isso que tantos artistas continuam voltando à tinta preta. Ela não perdoa — mas recompensa.
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