Quadrinhos no Brasil Pós-Pandemia: Onde Estamos e Para Onde Vamos?
- Eduardo Ronin Lucas
- 3 de jun.
- 2 min de leitura
A pandemia de COVID-19 foi um terremoto silencioso para o mercado editorial — e os quadrinhos, como parte dessa engrenagem cultural, não ficaram ilesos. Eventos cancelados, gráficas paradas, editoras recuando e artistas independentes enfrentando o colapso do financiamento coletivo. Mas, passada a tempestade sanitária, surge a pergunta inevitável: o que mudou de verdade? E mais importante: o que vem pela frente?

O impacto imediato: trauma e reinvenção
Durante os anos de 2020 e 2021, muitos quadrinistas brasileiros viram sua principal vitrine — os eventos presenciais — desaparecer do mapa. Para a cena independente, que vive da venda direta e do contato com o público, foi como perder o chão.
Mas nem tudo foi ruína. A necessidade forçou uma reinvenção: a digitalização se acelerou, com muitos autores migrando para plataformas como Catarse, Social Comics e Webtoon. Lives, lançamentos virtuais e até feiras online se tornaram a nova norma — uma alternativa que, apesar de não substituir o olho no olho, ampliou o alcance de muita gente que antes ficava restrita ao circuito Rio-SP.

O boom (e burnout) do financiamento coletivo
O Catarse se tornou o “barracão de feira” da produção nacional. Obras autorais, relançamentos, edições de luxo, zines... tudo passou por lá. Muitos projetos de quadrinistas brasileiros chegaram a arrecadar dezenas de milhares de reais — um feito que, pré-pandemia, parecia utópico.
No entanto, também houve sinais de esgotamento: muitos apoiadores começaram a reclamar de atrasos, má comunicação ou frustrações com a entrega final. O crowdfunding amadureceu, mas também exigiu mais profissionalismo dos artistas.

E agora, em 2025?
Com a retomada de eventos presenciais (ainda que em novo formato), o cenário está se reorganizando. A CCXP voltou com força, o FIQ continua sendo um pilar essencial da cena mineira, e pequenas feiras como a Butantã Gibicon ou a Perifacon ganham cada vez mais protagonismo. A descentralização virou uma realidade — e isso é bom.
Além disso, vemos um público mais disposto a apoiar o autor nacional, especialmente se o projeto tiver identidade própria. O leitor de hoje não quer apenas cópias de mangás ou super-heróis — ele busca voz própria, temas atuais, traços autorais e experiências honestas.

Desafios ainda em curso
Apesar dos avanços, os problemas persistem:
A distribuição ainda é fraca;
Livrarias seguem instáveis;
O preço do papel e da impressão subiu absurdamente;
A formação de novos leitores é um desafio diante da avalanche de conteúdos digitais.
Sem políticas públicas consistentes ou incentivo à leitura nas escolas, o quadrinho nacional segue à margem — resistente, sim, mas ainda muito vulnerável.

Para onde vamos?
Talvez para um caminho mais híbrido: eventos presenciais + vendas online; tiragens físicas pequenas + edições digitais; publicações solo + colaborações coletivas. O quadrinista de 2025 precisa ser artista, editor, marqueteiro e, quando possível, zen budista.
Mas há algo que não mudou e talvez nunca mude: a paixão pela nona arte como forma de expressão, resistência e sobrevivência criativa.
Enquanto houver leitores com fome de histórias e autores com algo a dizer, os quadrinhos brasileiros continuarão traçando seu caminho — entre tropeços, traços e tiras.
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