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Máscaras, Resistência e Identidade: A Representação de Personagens Negros nos Quadrinhos


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Os quadrinhos sempre refletiram o mundo — mesmo quando fingiam ser apenas entretenimento. E quando se trata da representação de personagens negros, a história é cheia de silêncios, estereótipos e, felizmente, resistência criativa.

Durante décadas, o espaço reservado a personagens negros era marginal: serviam de alívio cômico, sidekick caricato ou vilão genérico. Mas mesmo nas brechas desse sistema, surgiram vozes, rostos e narrativas que romperam com o molde.

Este artigo é um convite à reflexão — e à leitura — sobre como os quadrinhos vêm tratando seus personagens negros, do mainstream ao underground, do gueto ao trono.


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Os primeiros passos e os tropeços

A presença de personagens negros nos quadrinhos do século XX é marcada por estereótipos racistas, como nos comic strips americanos dos anos 1920 e 1930. Lábios exagerados, linguagem "errada", papeis servis. Não era representação — era zombaria.

Mesmo heróis negros, quando surgiram, eram quase sempre construídos sob uma lente branca. O primeiro super-herói negro com título próprio nos EUA foi Luke Cage, nos anos 1970 — e mesmo assim, criado dentro da estética blaxploitation, com todos os clichês que isso implica.

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Heróis, mas com luta

Com o tempo, surgiram personagens que passaram a representar mais do que força física:

  • Pantera Negra (Marvel, 1966): o primeiro super-herói africano de destaque. Criado por Stan Lee e Jack Kirby, mas elevado por roteiristas como Christopher Priest, Reginald Hudlin e Ta-Nehisi Coates, que trouxeram complexidade política e cultural à nação fictícia de Wakanda.

  • Tempestade (Ororo Munroe): uma das primeiras super-heroínas negras com protagonismo. Integrante dos X-Men, ela se tornou rainha, deusa e líder — mas sua trajetória só recentemente começou a ser contada com maior profundidade cultural.

  • Martha Washington (Frank Miller e Dave Gibbons): personagem poderosa de ficção política que quebra estereótipos de gênero e raça em um futuro distópico.

  • Raquel Ervin (Rocket, da Milestone): jovem, negra, grávida — e heroína. Uma das primeiras personagens a abordar questões sociais de forma crua e direta dentro do gênero super-heroico.

  • Miles Morales (Marvel): mistura de culturas, herança latina e negra, criado por Brian Michael Bendis e Sara Pichelli. Miles é um novo Homem-Aranha, mas também é um espelho de jovens que nunca se viram no manto antes.

  • Bishop, John Stewart (Lanterna Verde), Riri Williams (Coração de Ferro), Vixen, Nubia — cada um com sua bagagem e impacto cultural.

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Autores e artistas que mudaram o jogo

Não basta ter personagens negros — é essencial que autores negros contem suas próprias histórias.

🇧🇷 No Brasil:

  • Marcelo D’Salete: autor de Cumbe e Angola Janga, reconta a história da escravidão no Brasil com peso, dignidade e pesquisa impecável. Vencedor do prêmio Eisner.

  • Hugo Canuto: com A Canção de Mayrube e Orixás, une mitologia afro-brasileira, traço elegante e narrativa mística.

  • André Diniz: com Morro da Favela (baseado em fotos de Maurício Hora), humaniza personagens da periferia.

  • Roberta Cirne: em Farol do Terror, mistura horror com religiosidade popular e protagonismo negro nordestino.

Fora do Brasil:

  • Kyle Baker (Nat Turner): uma HQ brutal e ilustrativa sobre o líder de uma revolta escrava nos EUA.

  • Dwayne McDuffie: fundador da Milestone Comics, criou personagens como Static Shock, Hardware e Rocket.

  • Julius Onah, Sanford Greene, Afua Richardson, David F. Walker — todos parte de um movimento contemporâneo que não quer só espaço: quer autonomia.


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HQs para colocar na estante agora

Uma lista rápida de quadrinhos com protagonismo e autoria negra:

  • Cumbe – Marcelo D’Salete

  • Pantera Negra: Uma Nação Sob Nossos Pés – Ta-Nehisi Coates & Brian Stelfreeze

  • Exu – O Guardião dos Caminhos – Hugo Canuto

  • Hardware: Season One – Brandon Thomas & Denys Cowan

  • Infinitum – Tim Fielder

  • Mundo Paralelo – Roberta Cirne

  • Martha Washington Goes to War – Miller & Gibbons

  • Black – Kwanza Osajyefo & Jamal Igle

  • LaGuardia – Nnedi Okorafor & Tana Ford


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Representar é responsabilizar

Quadrinhos não são neutros. Cada personagem, cada fala, cada silhueta importa. A presença de pessoas negras nos quadrinhos — como personagens, autores, editores e leitores — não é uma concessão. É uma correção histórica, uma expansão criativa e uma revolução estética.

É hora de parar de tratar a diversidade como tendência. Ela é necessidade.


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